Já ouviu falar em poluição indoor?
A qualidade do ar das nossas casas e do local de trabalho pode aumentar o risco de rinite e até afetar a produtividade
Muito se fala sobre o aumento da poluição atmosférica e dos problemas com a qualidade de ar das grandes cidades. E, de fato, o acúmulo de substâncias encontradas no ar pode ser nocivo à saúde e ao meio ambiente. Mas nem todo mundo dá atenção para o que os especialistas chamam de “poluição indoor”, ou seja, a qualidade do ar nos ambientes internos, sejam eles residenciais, sejam comerciais.
As pessoas passam 90% do seu tempo dentro de salas ou recintos fechados – em casa, na escola, no trabalho, no carro etc – e a contaminação nesses locais pode ser de cinco a dez vezes pior do que no ambiente externo.
Nesse cenário, existem tanto a poluição perceptível (odores, poeira, mofo…) como aquela que não sentimos, mas que pode ser prejudicial à saúde, como certas substâncias e as bactérias. Ao ar livre, esse tipo de contaminação se dispersa. O contrário acontece em um ambiente fechado, onde todos esses elementos ficam concentrados e aumentam o risco de problemas respiratórios e condições que afetam a produtividade.
Em ambientes que contam com equipamentos de ar-condicionado a atenção deve ser ainda maior. O recurso traz uma série de benefícios, como conforto e bem-estar, ajudando a suportar as altas temperaturas do verão e o frio no inverno. O Brasil está entre os dez maiores mercados mundiais nesse segmento. Mas é preciso ficar de olho em seu impacto na saúde. A falta de manutenção e de limpeza desses aparelhos, comum por aí, propicia algumas doenças, especialmente as respiratórias.
Em prédios públicos e de uso coletivo, como escolas, shoppings, hotéis, restaurantes e hospitais, o cuidado com a poluição indoor torna-se ainda mais crítico. Nesses locais, caracterizados pela grande circulação de pessoas, o nível de micro-organismos é bastante elevado. Na América do Norte, por exemplo, infecções hospitalares já respondem por até 100 mil mortes por ano. No Brasil, um estudo feito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo mostra que 95% dos jalecos médicos estão contaminados.
Não são apenas os micróbios que estão por trás das enfermidades. Produtos de limpeza, fumaça, tinta, poeira e cigarro fragilizam a saúde. Quanto mais contaminado estiver um ambiente fechado, mais sobrecarregado ficará o sistema imunológico de quem vive ali. Dessa forma, é mais comum que esses elementos sirvam de gatilho para rinites, sinusites, bronquites e afins.
Durante muito tempo, os setores de ar-condicionado e refrigeração se valiam apenas de limpezas manuais dos filtros e manutenções periódicas dos equipamentos. Em paralelo, ganharam espaço nos ambientes internos os produtos conhecidos como “cheirinho”. Só que a maioria deles tem uma grande concentração de compostos químicos que mais pioram do que resolvem o problema.
Pensando em eliminar ou minimizar potenciais riscos à saúde, no início do ano foi sancionada Lei Federal 13 859, que torna obrigatória a execução de um Plano de Manutenção, Operação e Controle de sistemas e aparelhos de ar condicionado em edifícios públicos e de uso coletivo. A lei se aplica também a ambientes climatizados de uso restrito, tais como aqueles empregados em processos produtivos ou laboratoriais, que devem obedecer a regulamentos específicos. Todos os estabelecimentos deverão estar regularizados em 180 dias, sob pena de multa que chega a 200 mil reais.
Hoje estão disponíveis no mercado, tanto para residências quanto para grandes empreendimentos, diversas tecnologias de medição e descontaminação do ar nos ambientes internos. Falamos de métodos ecológicos, com princípios de purificação próximos aos da própria natureza. Eles viabilizam não só o cumprimento da nova lei como trazem benefícios à saúde dos ocupantes e à economia das empresas. Quanto antes houver o planejamento dessas metas de prevenção, cuidado e reparo, melhor será a qualidade do ar nesses locais.
É importante que todos saibam que aparelhos de ar-condicionado podem se tornar um foco de micro-organismos que, em última instância, causam problemas e impactam na produtividade das pessoas. Estudos indicam que ambientes saudáveis, com boa qualidade do ar, iluminação adequada, entre outros fatores, podem gerar incremento de 8 a 11% na produtividade. Tem mais: a manutenção desses equipamentos é capaz de gerar economia na conta de luz.
Chegamos ao ponto de ser necessária uma lei para garantir que a qualidade do ar dos ambientes fechados não continue afetando o bem-estar das pessoas e levando ao desperdício de dinheiro e energia. Que essa conscientização ganhe escala para que tenhamos ambientes mais saudáveis e sustentáveis.
* Henrique Cury é membro do Qualindoor – Departamento Nacional de Qualidade de Ar Interno da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) e diretor da EcoQuest do Brasil
Fonte: https://saude.abril.com.br
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